Leona Cavalli é a garçonete Lígia em Amarelo Manga
É impressionante como o cinema - mesmo o bom cinema - persegue personagens fáceis, que levam a uma identificação rápida do espectador. Um desses personagens da moda é o da "garçonete oprimida" que resolve tomar o controle de sua própria vida.
Há quatro bons filmes do cinema recente - dois brasileiros, um americano e um alemão - que pontuam suas histórias com uma garçonete oprimida. São eles:
Amarelo Manga,
Nina,
Os Educadores e
Sideways - Entre umas e outras.
Em
Amarelo Manga (de Cláudio Assis), a garçonete em questão é Leona Cavalli que, cansada da vida que leva em Recife, assume ares de valentia e passa a enfrentar quem a maltrata. Em
Nina, de Heitor Dhalia, a personagem-título (Guta Stresser) se revolta com o patrão e com os clientes que a tratam mal. Explode e nunca mais retorna ao restaurante onde trabalhava. A partir daí, seu perfil psicológico é cada vez menos submisso.
Em
Os Educadores (de Hans Weingartner), a garçonete Jule (Julia Jentsch) também se cansa do trabalho sem fim para pagar uma dívida igualmente sem fim. Foge do posto de submissão e assume um discurso revolucionário.
Em
Sideways - Entre umas e outras, a garçonete Maya (Virginia Madsen) não é tão submissa quanto a dos outros três filmes, mas recebe um olhar de desdém de um personagem (Miles) que logo depois se interessaria por ela . Mas há um momento do filme em que Maya ganha uma forte carga de vítima, o que acaba colocando-a na confortante posição de oprimida.
O paradoxo dos quatro filmes é que estão todos bem acima da média da produção atual. Mas não deixa de ser lamentável ver que a construção segue pobre, com recorrente busca de personagens de fácil identificação dramática.