Tarsila
A peça teatral Tarsila, que deu origem à minissérie Um Só Coração, esteve no Teatro Goiânia nos últimos três dias. Vi a apresentação de quinta e confesso que me surpreendi positivamente. Com direção de Sérgio Ferrara, a escolha de Eliane Giardini (foto acima) para interpretar Tarsila do Amaral foi certeira.
Mas o acerto maior foi o roteiro desrespeitar a ordem cronológica e quebrar a quarta parede, proporcionando uma idéia de ruptura maior do que se imaginava. É uma peça meticulosa, que não cai no didatismo rasteiro que usualmente caracteriza apresentações assim.
A peça separou bem os momentos de distanciamento de cada um dos componentes do quarteto modernista (Tarsila, Anita, Oswald e Mario), cometendo poucos pecados. Estão no elenco, além de Giardini, José Rubens Chachá (como Oswald de Andrade), Agnes Zuliani (como Anita Malfatti) e Pascoal da Conceição (como Mário de Andrade).
Já que o assunto é Tarsila, vai uma dica de livro. Ainda que não tenha valor literário, que até pode ser questionado, vale como registro histórico as cartas que Tarsila do Amaral e Anna Maria mandaram ao jornalista Luís Martins (que é citado na peça).
As tais cartas estão todas reunidas em Aí Vai Meu Coração (Planeta, 248 págs, R$ 65, veja capa na foto acima).
Para que se entenda: Ana Luísa Martins (que organizou o livro) descobriu, quando tinha oito anos de idade, que seu pai (Luís Martins) tinha vivido por 18 anos com sua tia Tarsila, a prima-avó pelo lado materno, antes de se casar com sua mãe.
Um detalhe fez do episódio um escândalo para a época: Luís tinha 26 anos quando conheceu Tarsila, que já tinha 47. Mas Anna Maria, a segunda esposa, era dezesseis anos mais nova que ele, Luís.
O livro tem edição de primeira, está bem ilustrado e contém trechos da autobiografia do crítico e crônicas publicadas por ele, que discorrem sobre o processo de separação e de seu novo casamento.
1 Comments:
O livro "Aí Vai Meu Coração" tem a estrutura de romance. Funciona do ponto de vista da filha de Luis Martins, que reuniu cartas, crônicas do pai e escreveu alguns trechos para contextualizar esse romance familiar. É literatura sim, bastante atual ao mesclar memória pessoal e registros como as cartas de pessoas que realmente existiram. O livro é dedicado a ninguém menos que Rubem Fonseca, por incentivar a publicação do material. Obra semelhante é "Armadilha para Lamartine", de Carlos Sussekind, que utilizou o diário de 30 mil páginas do pai. Ele assinou o romance como "Carlos & Carlos Sussekind". Os diários são literatura e vem sendo estudados não só como documento.
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