Descaminho

14.1.05

Para sair de casa


O livro-símbolo da geração beat explicaria o 'sorriso de beatitude' do jornal?

On the Road (Pé na Estrada), de Jack Kerouac, é um dos livros mais importantes do século 20. Menos do ponto de vista literário e mais do ponto de vista político-cultural. Embora também representasse um novo estilo de escrita, influenciou decisivamente movimentos de vanguarda, rock, artes plásticas, hippies, punks e milhares de mudanças comportamentais a partir de 1957, quando foi lançado.

Kerouac, autor do livro, era um dos expoentes da chamada Geração Beat, formada por pensadores norte-americanos rebeldes entediados com o pós-guerra. Na base de música, drogas e sexo, tentaram mudar a sociedade através da literatura. Além de Kerouac, foram importantes William Burroughs, Allen Ginsberg, Neal Cassady, Gregory Corso, Gary Snyder. Destes cinco citados, os três primeiros são, por meio de pseudônimos, personagens de On the Road.

Por que o nome beat? Kerouac sempre disse que a origem do termo era, de propósito, uma abreviação de beatitude. No mesmo ano de 1957, somando o radical beat com o sufixo de Sputnik (satélite comunista), surge a palavra beatnik, usada para designar os seguidores do movimento.

Em resumo, para não contar demais, On the Road narra a viagem sem fim de dois amigos pelas estradas dos EUA. Para quem não leu, é bom sempre ressaltar com exemplos que a influência de On the Road superou fronteiras, ambientes e gerações.

Jim Morrison fundou o The Doors após ler o livro. Francis Ford Coppola ainda diz que vai produzir, com Gus Van Sant dirigindo e o ator Johnny Depp sendo protagonista, um filme sobre o livro.

Os músicos Bob Dylan, Chrissie Hynde (dos Pretenders) e os cineastas Hector Babenco e Gus Van Sant disseram que só tomaram coragem de fugir de casa depois de ler On the Road.

Conheço também pelo menos duas pessoas que foram fortemente influenciadas pelo livro. Uma delas pediu demissão no confortável emprego que tinha, em 2001, para sair dirigindo pelas estradas do mundo. Já um grande amigo só tomou coragem de sair de casa depois de ler o livro. Não é por outro motivo que a obra de Kerouac ocupa lugar de destaque no apartamento dele.

Este mesmo amigo, que fugiu de casa na pós-leitura de On the Road, certa vez debochou bastante de uma matéria que fiz. Explico: trabalhando em um jornal diário, escrevi que um certo político "estava com um sorriso de beatitude no rosto". Sinceramente, nunca consegui explicar onde estava com a cabeça quando grafei a palavra "beatitude". Foram anos e anos de dúvida.

Agora, relendo On the Road, direi a ele que, naquele fim de semana, anos atrás, quando viajei para fazer a matéria, estava acompanhado de On the Road nas horas vagas. Beatitude viria de beat. Pronto. Além da explicação para o enigma, arrumei mais um exemplo de alguém influenciado pelo livro. Fazer o quê? Alguns mudam de casa, outros cometem barbaridades no jornal.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Dudu, vale lembrar de uma brasileira declaradamente influenciada pela beat generation, a escritora gaúcha Clarah Averbuck. Já deu uma espiada em Máquina de Pinball????

9:24 PM  
Anonymous Anônimo said...

Esqueci de assinar o post...

Andrea

9:25 PM  

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