Descaminho

25.1.05

Ser e Ter



O diretor Nicolas Philibert não esconde o seu saudosismo ao filmar o documentário Ser e Ter. Escancara um modelo de educação, professor e escola em extinção. E idealiza esse modelo. Na escola rural de Auvergne, sudeste da França, o professor pode tudo. Ensina a ler, cozinhar e viver. Carrega doses de autoritarismo e carinho. É um quase pai.

Philibert procura objetividade. Tenta se passar por invisível durante todo o filme, dentro ou fora da sala de aula. Com a única exceção do momento em que o professor Lopez é entrevistado. Philibert não é Spielberg, mas sabe que criança, ainda que deixada a esmo na frente da câmara, sempre é sinal de empatia imediata. A mesma empatia é conquistada pelo professor do filme. Não é de hoje que o estilo "ditador bonzinho" de ensinar é visto com apreço e certa nostalgia pela sociedade daqui, da França, do Japão ou da Lua.

Mas sucesso de Ser e Ter, visto por quase 2 milhões de pessoas só na França, acabou criando um paradoxo. Alunos, pais de alunos e o próprio professor do filme, Lopez, entraram estão na Justiça pedindo indenização e salários por terem participado do documentário - algo que, de início, não havia sido combinado. O professor chega até a reclamar co-autoria do filme. O romantismo, como se vê, mais uma vez é autêntico como uma nota de 3 francos.